Gestão de Pessoas e Liderança

Ações práticas para gestão de cultura em empresas de engenharia

Gerenciar a cultura organizacional em empresas que unem projetos técnicos e processos industriais é um dos maiores desafios da gestão moderna. Nesses ambientes, convivem perfis muito diferentes:

  • Engenheiros que pensam de forma analítica e orientada a normas;
  • Equipes de fabricação que trabalham sob pressão de prazos e condições reais de execução;
  • Gestores que precisam traduzir estratégia em comportamentos concretos;
  • Equipes administrativas focadas em processos internos e externos;
  • E entre isso, profissionais que trabalham com o que gostam e outros que trabalham com o que não gostam e desejam apenas uma remuneração no final do mês.

Para que tudo funcione como um organismo único, a cultura organizacional precisa ser desenhada, treinada, comunicada e reforçada. E, segundo a literatura, ela não nasce espontaneamente, ela é construída.

Com base em décadas de experiência e com base nos meus estudos do livro Management of Organizational Culture as a Stabilizer of Organizational Change e nos desafios típicos do setor, aqui estão as 5 ações práticas mais importantes para moldar e fortalecer a cultura em empresas que envolvem engenharia, fabricação e projeto técnico.

5 ações práticas mais importantes para moldar e fortalecer a cultura organizacional
5 ações práticas mais importantes para moldar e fortalecer a cultura organizacional

Criar uma Visão Cultural Clara, Objetiva e Visível

Um dos pontos mais importantes levantados pelo livro é que a cultura só se torna funcional quando a missão, os valores e as diretrizes são compreendidos e internalizados pelos colaboradores. Em empresas de engenharia, isso significa transformar princípios abstratos em comportamento observável:

“Segurança em primeiro lugar” vira:

  • Todos utilizam EPI;
  • Reuniões de 5 minutos antes do início da produção;
  • Zero tolerância para improvisos fora do procedimento.

“Qualidade técnica” vira:

  • Documentar antes de fabricar;
  • Revisão técnica obrigatória;

“Eficiência produtiva” vira:

  • Redução de retrabalho;
  • Planejamento semanal de produção;
  • Integração entre engenharia e fábrica.

Sem clareza cultural, metas viram slogans e slogans não mudam comportamento.

Logo, é preciso SIM que tenhamos uma placa bem visível com os valores da empresa fixada na parede e escrita no site da empresa. Mas isso é só o início do processo. O discurso no dia a dia da empresa deve estar de acordo com o que diz essa placa.

Engajar a Liderança Como Modelo Cultural pelo Exemplo

O livro informa e minha experiência confirma que a liderança é o principal agente de transmissão cultural. Não é o cartaz no mural, nem o manual do colaborador ou a placa na parede. É o comportamento diário dos líderes.

Em engenharia isso é ainda mais crítico: Um coordenador que exige ordem, mas grita na fábrica, destrói a cultura. Um administrador que cobra disciplina, mas demora e atrasa em suas atividades destrói a cultura. Um gestor que fala de segurança, mas não usa óculos de proteção, destrói a cultura.

Segundo o livro, o líder funciona como:

  • Modelo
  • Narrador da visão
  • Integrador de equipes
  • Guardião das práticas corretas

E mais importante: o líder precisa reforçar a cultura diariamente, não ocasionalmente.

Cultura organizacional é o que acontece e os líderes reforçam ou toleram.”

Desenvolver uma Cultura de Inovação Disciplinada

O livro destaca que empresas modernas precisam migrar de culturas rígidas (baixa tolerância ao erro) para culturas inovadoras e adaptativas.

Mas na engenharia existe um paradoxo: Criatividade é necessária, mas rigor técnico é obrigatório. Por isso, o ideal é uma “Inovação Disciplinada”.

Inovação disciplina é:

  • liberdade CONTROLADA por comunicação prévia;
  • melhoria CONTÍNUA sem improviso/gambiarra;
  • criatividade dentro dos LIMITES do procedimento.

As características de uma cultura inovadora são:

  • cooperação
  • criatividade
  • independência
  • aceitação da incerteza
  • busca por conquistas
  • senso de valor pessoal

Na prática, o que isso significa no chão de fábrica?

  • reuniões semanais de lições aprendidas sem punição
  • feedback estruturado entre engenharia e produção
  • espaço seguro para propor melhorias
  • aceitação planejada de testes e protótipos

Esse equilíbrio evita que a empresa fique engessada e evita também o improviso caótico.

Criar Sistemas de Comunicação Horizontal e Transparente

Cultura sem comunicação é apenas teoria. O livro enfatiza que a comunicação é uma das bases estruturais do processo de inovação e adaptação.

Em empresas com engenharia + produção, isso significa eliminar barreiras entre “quem projeta” e “quem fabrica”. Um dos erros clássicos é o distanciamento entre escritório e fábrica. Isso gera retrabalho, conflitos e perda de tempo.

Práticas essenciais:

  • Reunião rápida de alinhamento entre engenharia e produção (5 a 10 minutos/dia).
  • Quadros visuais com status das ordens de fabricação.
  • Comunicação lógica: o porquê vem antes do como.
  • Canal de feedback formal entre fábrica e engenharia.
  • Mesmo refeitório e horário de refeições para escritório e produção.

Uma cultura forte depende menos de burocracia e mais de fluxo transparente de informação.

Integrar Cultura ao RH, ao Treinamento e ao Sistema de Reconhecimento

O livro destaca que a cultura só se sustenta quando o RH reforça o comportamento desejado e desestimula o indesejado.

O que isso significa em empresas de engenharia?

  • Selecionar profissionais coerentes com os valores da empresa
  • Treinar atitudes antes de treinar ferramentas
  • Recompensar quem vive a cultura
  • Desestimular comportamentos nocivos (ciúme técnico, vaidade, inveja, reclamações)

Exemplos práticos:

  • Premiar quem identifica causas de retrabalho e soluções definitivas
  • Valorizar o técnico que forma novos técnicos (cultura de multiplicação)
  • Reforçar elogios em público e correções em particular
  • Treinar novos colaboradores “na cultura”, não apenas na técnica
  • Promover quem enfrenta dificuldades de forma positiva e não com reclamações

O livro afirma que uma cultura produtiva reduz:

  • tempo de assimilação de novos funcionários
  • conflitos internos
  • erros decorrentes de comunicação ruim
  • resistência a mudanças

Conclusão

Em engenharia, cada projeto tem uma estrutura física, mas cada empresa tem uma estrutura invisível: sua cultura. E essa estrutura vale mais do que qualquer equipamento, software ou padrão técnico.

A cultura é o que sustenta o resultado da empresa, e a liderança deve realizar 5 movimentos para gerenciar a cultura:

  • Definir uma visão clara
  • Ser exemplo para os demais
  • Empoderar a equipe a seguir a cultura
  • Promover comunicação aberta
  • Incentivar a inovação

Cultura é engenharia aplicada às pessoas. E, tal como uma ponte, só existe se for projetada, construída e mantida.

Podcast

O podcast do livro nos ajudar a compreender esse assunto.

 

Anderson Ferreira

Anderson Ferreira é engenheiro mecânico pela PUC Minas, MBA em gestão de projetos pela USP, certificado como PMP pelo Project Management Institute, Mestre em Engenharia pela UFMG e certificado PMO-CP pela PMO Global Alliance. Anderson ama a gestão de projetos e engenharia, e acredita que unindo esses dois conhecimentos podemos construir um Brasil cada vez melhor.

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