Estimativas

Quais as melhores técnicas de estimativas preditivas?

Quando falamos de projetos gerenciados com a abordagem preditiva, estamos falando de um modo de gerenciar projetos em que, majoritariamente, desejamos que as estimativas sejam tão precisas e exatas quanto possível for. E investiremos bastante tempo para que isso seja realizado.

Embora sejam frequentemente usados como sinônimos, precisão e exatidão são conceitos diferentes. Precisão se refere à consistência ou repetibilidade de uma estimativa. Ou seja, a precisão é a capacidade de uma técnica de produzir resultados semelhantes quando estima a mesma coisa várias vezes. Já a exatidão se refere à proximidade do valor estimado em relação ao valor verdadeiro. Ou seja, a exatidão é a capacidade de um instrumento ou método de produzir um resultado que esteja próximo do valor real.

Sendo assim, uma estimativa pode ser precisa, mas não exata, se produzir resultados consistentes, mas que estão longe do valor verdadeiro. E uma estimativa pode ser exata, mas não precisa, se produzir resultados próximos do valor verdadeiro, mas que variam a cada medição.

A figura seguinte ilustra bem esses dois conceitos.

Demonstração dos conceitos de precisão e exatidão.
Demonstração dos conceitos de precisão e exatidão.

“Não confunda precisão com exatidão. Uma coisa pode ser muito precisa, mas não necessariamente exata.” – Richard Feynman

Evidentemente, é preciso fazer um balanço de custo-benefício para se saber até que ponto vale a pena investir o tempo disponível dos profissionais para a realização do cálculo de estimativas.

“Uma estimativa razoável é melhor do que uma exatidão imprecisa.” – Mark Twain

Sendo assim, temos 4 principais técnicas de estimativas que podem ser realizadas ao longo de um projeto gerenciado com a abordagem preditiva, cada técnica com suas vantagens e desvantagens, como aprenderemos a seguir.

Para aprender as quatro técnicas, utilizaremos elas para estimar o custo de uma mesma atividade, ou seja, utilizaremos as quatro técnicas para responder a mesma pergunta a seguir:

Quanto custa a construção da cobertura de um prédio escolar de 200 m² para uma nova escola que será construída em um bairro periférico de Belo Horizonte?

Estimativa análoga

A estimativa análoga é a estimativa que faz uma analogia. Pode ser uma analogia entre duas atividades ou dois projetos. É preciso garantir que os dois itens comparados sejam de fato análogos. Para que sejam análogos, o escopo precisa ser similar.

Exemplo:

Quanto custa a atividade construção de cobertura de 200 m² para uma escola em um bairro periférico de Belo Horizonte?

Sabendo que a construção da cobertura de 400 m² para uma escola no centro de São Paulo teve um custo R$46.000,00 em há dois anos.

Por analogia, podemos estimar que a atividade terá um custo similar há R$23.000,00 no ano atual.

Como você já observou, essa é uma estimativa rápida de se realizar, exige dados históricos e itens com carácter de similaridade. É uma estimativa muito utilizada nos estudos iniciais de viabilidade de uma ideia, e por isso também é chamada de estimativa top down.

“Uma boa estimativa é aquela que é viável, independentemente do quão precisamente você precisa dela.” – Paul R. Ehrlich.

Essa estimativa pode ser refinada aplicando-se:

  • Variação do custo conforme índice de correção (exemplo, variação do INCC do ano atual para dois anos atrás);
  • Fator de custo do centro de São Paulo para bairro periférico de Belo Horizonte.

Alguns índices de correção são:

  • INCC (Índice Nacional de Custo de Construção): relativo a custos de insumos que se empregam as construções habitacionais que são financiadas.
  • IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo): Aferido mensalmente pelo IBGE para identificar a variação dos preços no comércio. (gráfico IPCA aqui)

Estimativa paramétrica

A estimativa paramétrica utiliza um relacionamento entre parâmetros construídos com base em dados históricos.

Exemplo:

Quanto custa a atividade construção de cobertura de 200 m² para uma escola em um bairro periférico de Belo Horizonte?

Se o parâmetro de custo da construção de coberturas prediais é de R$100,00 por m², podemos estimar um custo similar a R$20.000,00.

“A única maneira de fazer previsões confiáveis é ter informações precisas.” – John Naisbitt

Essa estimativa possui o benefício de ser mais precisa e de fácil obtenção, mas requer o acesso a parâmetros históricos de custo confiáveis, o que só está disponível para um número limitado de atividades.

Na construção civil, é comum esses parâmetros serem arquivados em bases denominadas de Bases de Custos Unitários, sendo a mais famosa o CUB (http://www.cub.org.br/).

Conforme o item 3.9 da Norma Brasileira ABNT NBR 12.721:2006, O CUB (Custo Unitário Básico), é:

“Custo por metro quadrado de construção do projeto-padrão considerado, calculado de acordo com a metodologia estabelecida em 8.3, pelos Sindicatos da Indústria da Construção Civil, em atendimento ao disposto no artigo 54 da Lei nº 4.591/64 e que serve de base para avaliação de parte dos custos de construção das edificações.”

Também temos um livro explicativo de como aproveitar melhor o CUB, ilustrado na figura a seguir.

Capa do manual explicativo do CUB (estimativa paramétrica).
Capa do manual explicativo do CUB (estimativa paramétrica).

Além das bases de dados de acesso público, cada empresa pode ter a sua base de dados individualizada, que, em geral, costuma ser mais exata à condição específica de cada empresa.

A figura seguinte apresenta exemplo de cálculo do parâmetro de custo para a atividade de construção de parede com os dados da Construtora Tenda em 2018.

Cálculo do parâmetro de custo para construção de parede.
Cálculo do parâmetro de custo para construção de parede.

Realizar uma estimativa com dados paramétricos é garantir seguir a orientação da frase seguinte.

“Não baseie suas decisões em estimativas que não sejam apoiadas por dados.” – Michael Jordan.

Estimativa bottow up

A estimativa bottom-up (em português, debaixo para cima), é um método para estimar cada atividade (ou cada pacote de trabalho na EAP), e então, realizando a agregação dos custos de baixo para cima na EAP, calcular o valor dos custos nos pacotes macro até obter o custo do projeto como um todo.

A estimativa bottom up é um se baseia em avaliar os custos de cada componente individual de um projeto, a fim de determinar um custo total com maior precisão. Nesse método, a estimativa é feita a partir da análise detalhada dos custos de cada atividade ou item necessário para a conclusão do projeto. O processo de estimativa bottom up geralmente envolve os passos:

  1. Identificação de todos os itens necessários para o projeto;
  2. Quantificação de todos os itens necessários ao projeto (planilha PQ);
  3. Determinação do custo unitário de cada item;
  4. Somatório de dos custos de cada item para obter uma estimativa total do projeto.

Embora esse método possa ser mais demorado e trabalhoso do que outros métodos de estimativa, como a estimativa top down, ele geralmente fornece uma estimativa mais precisa e confiável, pois leva em consideração cada item individual necessário para o projeto e evita a omissão de custos importantes.

Exemplo:

Quanto custa a atividade construção de cobertura de 200 m² para uma escola em um bairro periférico de Belo Horizonte?

Após a elaboração da lista de material completa (Planilha de Quantitativo, ou PQ), e a cotação de cada item, obtém-se a estimativa abaixo.

Descrição Preço
1 Kit 200 telhas metálicas n° 1517 R$8.960,00
2 Conjunto fixadores e consumíveis R$3.890,00
3 450 m de metalon 40×40 #2 mm R$3.590,00
4 5 diárias de telhadista + serralheiro R$2.620,00
5 TOTAL R$19.060,00

Na construção civil, é comum termos Bases de Custos com o registro do custos de itens importantes. Desse modo, não é necessário consultar fornecedores para saber os preços de mercado dos itens. Exemplos:

O SINAPI (Sistema Nacional de Preços e Índices para a Construção Civil) tem por objetivo a produção de séries mensais de custos e índices para o setor habitacional, é disponibilizado gratuitamente pela CAIXA. No site você encontra um guia de como usar a ferramenta para realizar estimativas de custos para seus projetos. O site te permitirá realizar o download de dois tipos de tabelas, a SINAPI onerada inclui o impacto de pagamento de 20% da folha de pagamento deve ser destinada ao INSS. A Lei 12.546/2011 permite algumas construtoras a não realização desse pagamento, substituído ele pelo pagamento de a 2% da receita bruta ao INSS. A tabela SINAPI desonerada considera esse segundo cenário.

A TCPO (Tabela de Composição de Preços para Orçamentos) é uma tabela para é alimentar as bases de dados dos sistemas de gerenciamentos utilizados nas obras, é uma das mais usadas e que possui plano de assinatura para consultar os dados.

Veja na base de dados de gestão de custos uma estimativa de projeto de rede FTTH realizada com a técnica de estimativa bottom up, clique aqui.

Estimativa de 3 pontos

A estimativa de três pontos é uma alternativa para os casos em que não possuímos:

  • Bases históricas de custo para a estimativa análoga;
  • Parâmetros de custo para a estimativa paramétrica;
  • Tempo disponível para a estimativa bottom-up.

A estimativa de três pontos consiste em perguntar a profissionais que tenham experiência/expertise na área em questão ‘qual o custo eles acreditam ser necessário para realizar o projeto/atividade?’. A resposta deve ser coletada em 3 cenários:

  • CP (Cenário pessimista) ➡ maior custo
  • CM (Cenário Mais Provável) ➡ custo realista
  • CO (Cenário Otimista) ➡ menor custo

Com esses 3 valores, por meio de um cálculo, determinamos qual será o Custo Estimado (CE). O cálculo do CE usa uma das duas fórmulas abaixo:

Fórmula pela distribuição triangular:

CE = (Co + CM + CP)/3

Fórmula pela distribuição beta:

CE = (Co + 4 * CM + CP)/6

A distribuição triangular valoriza de forma igual os 3 cenários. A distribuição Beta valoriza mais o cenário Mais Provável.

Outro benefício da estimativa de três pontos, é obter uma faixa provável para os custos do projeto. Assim, sabe-se o a maior quantidade de dinheiro que possa ser necessária para concluir o projeto (cenário Pessimista) e a menor quantidade possível de dinheiro para concluir o projeto (cenário Otimista).

Exemplo:

Quanto custa a atividade construção de cobertura de 200 m² para uma escola em um bairro periférico de Belo Horizonte?

Na opinião do senhor Deivison, engenheiro especialista na empresa DMA Engenharia de Estruturas, estima que a atividade terá um custo de, no mínimo R$17.000,00 (melhor cenário), um custo mais provável de R$21.000,00 e, no pior dos casos, um custo de R$30.000,00.

Com base na distribuição beta, temos:

CE = (Co + 4 * CM + CP)/6

CE = (17.000,00 + 4 * 21.000,00 + 30.000,00)/6

CE = 21.833,33

Conclusão

Observe os custos estimados obtidos pelas diferentes técnicas de estimativas e então verá as vantagens e desvantagens de cada técnica.

As diferentes técnicas possuem diferentes níveis de precisão, mas para garantir que são exatas ou não, é preciso garantir que sejam utilizadas de maneira correta.


Quiz de Fixação

Teste o seu aprendizado. Escolha uma alternativa para as perguntas a seguir.

 

1. Qual a principal vantagem da técnica de estimativa análoga?

Correct! Wrong!

A estimativa análoga é rápida de ser obtida. Lembrando que ele requer dados que tenham caráter de similaridade para que a analogia seja válida.

2. Qual a principal vantagem da técnica de estimativa paramétrica?

Correct! Wrong!

A estimativa paramétrica é rápida de ser obter e é muito confiável quando os parâmetros utilizados são realistas.

3. Qual a principal vantagem da técnica de estimativa detalhada (bottom-up)?

Correct! Wrong!

A estimativa bottom-up costuma ser a de maior precisão (e também a mais demorada).

4. Qual a principal vantagem da técnica de três pontos?

Correct! Wrong!

A estimativa por três pontos requer a opinião criteriosa de especialistas na área e ele determina 3 cenários possíveis.

Anderson Ferreira

Anderson Ferreira é engenheiro mecânico pela PUC Minas, MBA em gestão de projetos pela USP, certificado como PMP pelo Project Management Institute, Mestre em Engenharia pela UFMG e certificado PMO-CP pela PMO Global Alliance. Anderson ama a gestão de projetos e engenharia, e acredita que unindo esses dois conhecimentos podemos construir um Brasil cada vez melhor.

One thought on “Quais as melhores técnicas de estimativas preditivas?

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