Princípios de gestão de projetos

4 princípios de gestão para um projeto de engenharia

Fazer a gestão de um projeto requer seguir 4 princípios ligados a gestão para que o projeto possa ser concluído com sucesso. Estudaremos esses 4 princípios tomando como exemplo prático um caso de projetos real.

Projeto real: Duplicação da rodovia da Serra do Cafezal (BR 116)

A rodovia BR 116 cruza a Serra do Cafezal do km 336 ao km 369. O trecho ficou famoso por seus longos engarrafamentos e acidentes fatais, quando ainda era em pista simples de mão dupla, além do intenso tráfego de veículos pesados de carga, que correspondiam a cerca de 60% do total.

O projeto, que foi concluído em 2018 liderado por Eneo Palazzi (engenheiro civil), representou um desafio de gestão de projeto devido as características especificas do projeto.

O documentário Mundo inovação – Projeto de Duplicação da Serra do Cafezal, produzido pelo Discovery Brasil, com duração de 47 minutos, apresenta detalhes desse desafio do projeto. No primeiro bloco do documentário (com 13 minutos de duração), você já consegue ver o apelo social e ambiental do projeto.

Você pode assistir o documentário clicando abaixo:

Seja um administrador diligente, respeitoso e atencioso

O princípio Seja um administrador diligente, respeitoso e atencioso enfatiza a importância de gerir projetos com cuidado, honestidade e confiança junto as pessoas. É uma orientação aos gestores de projetos a assumirem a responsabilidade por suas ações e decisões, garantindo que estas estejam alinhadas com os valores éticos e os objetivos da organização.

Esse princípio destaca a necessidade de tratar todas as partes interessadas com respeito, promovendo um ambiente de trabalho positivo e produtivo.

Este princípio abrange várias dimensões, incluindo:

Cuidado: Este aspecto do princípio refere-se à atenção meticulosa dada às pessoas, aos detalhes do projeto e ao bem-estar da equipe e das partes interessadas. Implica na prevenção proativa de problemas e na mitigação de riscos de forma considerada.

Honestidade: Ser transparente em todas as comunicações e relatórios, admitindo erros e buscando soluções ao invés de atribuir culpas. A honestidade constrói confiança e fomenta um ambiente aberto ao diálogo e à inovação.

Confiabilidade: Implica cumprir promessas e compromissos, entregando resultados conforme acordado. A confiabilidade de um gestor de projetos estabelece uma base sólida para a confiança das partes interessadas no projeto.

Conformidade: Significa aderir a padrões éticos, regulamentações e leis aplicáveis, garantindo que o projeto não apenas atenda às suas metas de desempenho, mas também opere dentro dos parâmetros legais e éticos.

Aplicação do princípio no projeto Duplicação Serra do Cafezal

Durante a fase de planejamento do projeto, a equipe identificou uma série de oportunidades de reduzir significativamente os custos e prazos fazendo pequenas alterações no trajeto do projeto.

Embora as alternativas fossem mais baratas e rápidas de executar, ela comprometia a preservação ambiental e não foi tão rigorosamente estudada pelos órgãos ambientais.

Aplicando o princípio de ser um administrador diligente, respeitoso e atencioso, o gestor de projetos não aprovou a alteração sem submissão das informações completas ao órgão competente. A decisão foi explicada à equipe e às partes interessadas com honestidade, destacando a importância da conformidade com os padrões de qualidade e a confiabilidade a longo prazo da infraestrutura. O líder do projeto teve cuidado com a saúde e disposição da equipe do projeto, com a preservação ambiental e com o bem-estar dos futuros usuários da infraestrutura.

Como você pode ver em mais detalhes em uma reportagem do G1 clicando aqui, as obras foram interrompidas e o tempo necessário para conclusão dos estudos e licenças ambientais foram respeitados. Um vídeo de 1:14 resume o conteúdo da reportagem.

Administrar com cuidado, honestidade e confiabilidade transforma projetos em legados de excelência e respeito.

Aquele profissional que conduz o projeto para que seja aprovado pelo cliente e que esse assine o termo de aceite, mas sem se preocupar com a durabilidade e conformidade e legado do projeto, não possui um princípio base para ser um bom gerente de projeto.

Faça a adaptação de acordo com o contexto

O princípio Faça a adaptação de acordo com o contexto sublinha a importância de customizar as práticas de gestão de projetos para atender às necessidades únicas de cada projeto, considerando seu ambiente, complexidade, stakeholders e objetivos.

Este princípio reconhece que não existe uma abordagem única para todos os projetos e que a flexibilidade e a capacidade de adaptação são fundamentais para o sucesso do projeto.

Aqui, o gestor do projeto atua com a versatilidade de um canivete suíço, aplicando a técnica ou ferramenta mais adequada para cada situação específica, garantindo que o projeto avance de forma eficiente, respeitando o orçamento, o cronograma, e mantendo a qualidade.

Este princípio abrange várias dimensões, incluindo:

Conhecimento das abordagem Iterativo (ágil) e Preditivo (cascata): Saber alternar entre abordagem preditiva e Iterativa.

  • A abordagem preditiva é sequencial, as fases do projeto são completadas uma após a outra, com pouca revisão. É mais adequada para projetos com escopo bem definido e requisitos estáveis.
  • A abordagem Iterativa é mais usual para projetos em ambientes voláteis ou quando os requisitos são esperados para mudar.

Implementar abordagem híbrida: Combinar elementos das abordagens preditivas e iterativas, permitindo que o projeto se beneficie das duas abordagens ao mesmo tempo, dependendo das necessidades específicas de cada momento.

Dominar ferramentas como um canivete Suíço: Uma metáfora para descrever a necessidade de um gestor de projetos ser versátil, equipado com uma variedade de ferramentas e técnicas (como um canivete suíço) que podem ser aplicadas conforme necessário, dependendo do contexto do projeto.

Aplicação do princípio no projeto Duplicação Serra do Cafezal

O projeto da duplicação Serra do Cafezal envolveu múltiplas fases, desde o desenho até a construção. O projeto começou com uma abordagem ágil, realizando estudos para permitir ajustes rápidos em resposta a desafios inesperados, como descobertas geológicas imprevistas ou mudanças climáticas adversas.

Uma vez que os desenhos foram finalizados e aprovados, a equipe adotou uma abordagem preditiva durante a fase de construção, utilizando o método cascata para prosseguir com a execução da obra, prevenindo mudanças quando são custosas e indesejáveis.

Adaptar a gestão do projeto ao contexto pode permitir que os gestores de projetos naveguem com sucesso pelos desafios únicos apresentados em projetos de engenharia complexos, focando mais nas necessidades do projeto e menos nas diretrizes metodológicas. Como um viajante que olha mais para o território do que para o mapa.

Gerenciar um projeto de construção de uma usina de incineração, é muito diferente de gerenciar o projeto de construção de um condomínio residencial, que é muito diferente de gerenciar o projeto de desenvolvimento de um novo design de produto para um elevador de escadas.

Aquele profissional que quer estudar gestão de projetos como uma receita de bolo a ser seguida “ao pé-da-letra” e aplicar isso em seu projeto, que é bitolado e fã de uma metodologia específica, sem o foco de estudar a empresa em que trabalha e o projeto em que está atuando para tomar decisões de acordo com o contexto, não possui um princípio básico para ser um bom gerente de projetos.

Obs.: Em minha vida profissional, presenciei profissionais tão bitolados em uma metodologia específica, que a utilizavam mesmo em contextos que os guias e os autores da metodologia informavam que a metodologia não era uma boa alternativa. Isso me lembra a frase abaixo:

Para quem só tem um martelo como ferramenta, todos os problemas parecem pregos.

Reconheça, avalie e reaja às interações do sistema

O princípio Reconheça, avalie e reaja às interações do sistema enfoca a compreensão e consideração das complexas interdependências dentro e entre projetos, bem como o reconhecimento de que um projeto pode ser um componente dentro de um maior sistema de sistemas.

Este princípio destaca a importância da integração e da colaboração entre diferentes elementos do projeto, promovendo uma abordagem que transcende a visão limitada de elementos isolados, favorecendo uma visão holística.

Este princípio abrange várias dimensões, incluindo:

Interdependência: Refere-se ao reconhecimento de que as partes de um projeto não operam isoladamente; elas afetam e são afetadas por outras partes do projeto e, por extensão, por outros projetos dentro da organização ou até mesmo por elementos externos.

Pensamento Sistêmico: Uma abordagem que contempla o projeto como um todo, entendendo como as suas diferentes partes se relacionam entre si e com outros sistemas, visando otimizar os resultados gerais e não apenas os componentes individuais.

Integração: A capacidade de unificar e coordenar diversos elementos e processos de um projeto, garantindo que trabalhem em conjunto de forma coesa em direção aos objetivos definidos.

Visão Holística: Envolve olhar além das partes individuais de um projeto para entender o projeto como um todo, bem como sua interação com o ambiente externo e outros projetos ou sistemas.

Aplicação do princípio no projeto Duplicação Serra do Cafezal

O princípio Reconheça, avalie e reaja às interações do sistema é fundamental em projetos de engenharia complexos, como foi o caso da duplicação da Rodovia Régis Bittencourt, no trecho da Serra do Cafezal.

O primeiro passo na aplicação deste princípio foi o reconhecimento das várias interações dentro do sistema do projeto. A Serra do Cafezal é uma área com grande biodiversidade, complexidade geológica, frequentes acidentes viários, onde qualquer intervenção poderia ter múltiplas repercussões negativas, incluindo também os conflitos de interesses entre comunidade nativa, governo estadual, empresas e caminhoneiros. As principais ações realizadas nesse contexto incluíram:

Interdependência entre construção e impacto ambiental: Qualquer construção na área tinha o potencial de afetar a flora e fauna locais, exigiu avaliação cuidadosa, medidas de mitigação e aprovação formal da IBAMA.

Relação entre topografia e técnicas de construção: A natureza íngreme e irregular da serra influenciava diretamente os métodos construtivos, especialmente na estabilização de encostas e na construção de viadutos e túneis.

Foto de túnel construído para o projeto de duplicação da rodovia Serra do Cafezal
Foto de túnel construído para o projeto de duplicação da rodovia Serra do Cafezal

Adaptação do design de engenharia: O design dos viadutos e túneis foi adaptado para aliviar o impacto visual e físico na paisagem natural, utilizando técnicas como túneis mais longos para evitar cortes extensivos na montanha ou na mata.

Implementação de barreiras de proteção ecológica: Em áreas especialmente sensíveis, foram implementadas barreiras físicas para proteger a fauna durante a construção, e corredores ecológicos foram estabelecidos para permitir a livre movimentação de animais.

Monitoramento contínuo: Sistemas de monitoramento foram instalados para avaliar continuamente o impacto da construção no ambiente, permitindo ajustes rápidos em técnicas ou práticas conforme necessário.

Aquele profissional que em cada momento se coloca em uma “caixa de pensamento isolada” e só consegue analisar um assunto por vez, por exemplo, só consegue analisar os prazos sem fazer uma integração com escopo, qualidade, comunidade, custos… não tem um princípio básico para ser um bom gerente de projetos.

Inclusive, infelizmente, alguns alunos se graduam sem competência devido a não desenvolver uma visão sistêmica do curso que estudaram, e carregam as disciplinas como se fossem caixas isoladas.

Pensamento sistêmico é compreender que na vida prática da engenharia, todas as disciplinas estão acontecendo ao mesmo tempo. Não se aplica gestão de custos desconsiderando a gestão dos prazos.

Inclua qualidade nos processos e nas entregas

O princípio Inclua qualidade nos processos e nas entregas ressalta a importância de integrar considerações de qualidade em todas as fases do projeto, desde o planejamento até a execução e entrega. Este princípio orienta os gestores de projetos a garantir que tanto os processos utilizados para gerenciar o projeto quanto os produtos ou serviços resultantes atendam as expectativas das partes interessadas.

Este princípio abrange várias dimensões, incluindo:

Satisfazer às expectativas: Assegura que o projeto atenda às necessidades e expectativas dos clientes e outras partes interessadas, tanto expressas quanto implícitas.

Sem defeitos: Foca na realização do trabalho corretamente na primeira tentativa, minimizando erros e defeitos para evitar retrabalho e desperdício. Importante não confundir erro com defeito.

Adequado para o propósito: Refere-se a garantir que os entregáveis do projeto sejam apropriados para o uso pretendido, cumprindo sua função de maneira eficaz.

Aplicação do princípio no projeto Duplicação Serra do Cafezal

O princípio Inclua qualidade nos processos e nas entregas assegurou que cada etapa do projeto, desde o planejamento até a execução, foi conduzida com um alto padrão de qualidade, garantindo que os entregáveis finais atendam as expectativas das partes interessadas e cumpram com todas as regulamentações aplicáveis.

Desde o início, o projeto foi estruturado em torno de padrões rigorosos de qualidade, definidos para alinhar as expectativas das partes interessadas com as metas do projeto. Estes padrões abordaram:

Qualidade dos Materiais: Os materiais mais críticos utilizados na construção foram selecionados com base em critérios de durabilidade, resistência e compatibilidade ambiental, garantindo que a infraestrutura fosse capaz de resistir às condições climáticas e geológicas da região.

Desempenho das Técnicas de Engenharia: As técnicas adotadas para a construção dos viadutos, túneis e outros componentes críticos foram escolhidas não apenas pela eficiência de custos, mas, primordialmente, pela qualidade e segurança que proporcionariam ao projeto.

Inspeções Regulares: Foram realizadas inspeções frequentes e meticulosas por equipes de qualidade dedicadas, que avaliaram a conformidade de cada segmento da obra com os padrões estabelecidos.

Auditorias de Qualidade: Auditorias regulares por entidades externas ajudaram a identificar alguns desvios pontuais que aconteceram nos processos de construção que foram resolvidos antes que os mesmos se tornassem um problema.

Testes e Certificações: Alguns componentes críticos do projeto passaram por testes rigorosos para certificar sua performance e segurança. Isso incluiu testes de carga em pontes e viadutos e testes de integridade em túneis.

Para encerramos esse estudo com chave de ouro, assista a reportagem de 5 minutos abaixo e veja um pouco sobre a fase final de testes antes da entrega da rodovia.

Conclusão

Administre o seu projeto com honestidade, pensamento sistêmico para compreender o projeto e o ambiente do projeto, estude a sua empresa e o projeto para poder trabalhar de forma alinhada ao contexto, e lembre-se de verificar a qualidade ao longo do projeto e não somente ao final.

Esse “check-list” básico de 4 princípios irá corroborar para você ser um excelente profissional de projetos de engenharia.


Quiz de fixação

Teste o seu aprendizado. Escolha uma alternativa para as perguntas a seguir:

PS: Se acertar todas as questões, você verá um vídeo especial de comemoração!

1. O que significa ser um "administrador diligente, respeitoso e atencioso" na gestão de projetos?

Correct! Wrong!

2. No contexto do princípio "Faça a adaptação de acordo com o contexto", o que envolve implementar uma abordagem híbrida?

Correct! Wrong!

3. O que implica o princípio "Inclua qualidade nos processos e nas entregas"?

Correct! Wrong!

4. O princípio "Reconheça, avalie e reaja às interações do sistema" enfatiza:

Correct! Wrong!

4 princípios de gestão para um projeto de engenharia
É, você acertou tudo! Veja um vídeo para comemorar! 🎉🎉🎉

Anderson Ferreira

Anderson Ferreira é engenheiro mecânico pela PUC Minas, MBA em gestão de projetos pela USP, certificado como PMP pelo Project Management Institute, Mestre em Engenharia pela UFMG e certificado PMO-CP pela PMO Global Alliance. Anderson ama a gestão de projetos e engenharia, e acredita que unindo esses dois conhecimentos podemos construir um Brasil cada vez melhor.