Aprendizado e didática

Como estudar para aprender de verdade e ser um expert em qualquer assunto

Estudar para aprender de verdade te permite se tornar um expert em qualquer assunto. Mas se você estuda com um método que não te faz aprender de verdade você pode se tornar apenas um memorizador de informações. Este post vai te ensinar o essencial sobre como estudar para aprender de verdade e ser um expert em qualquer assunto, entendendo a diferença que faz de alguns meros memorizadores e de outros grandes experts.

Quem aprende de verdade não faz o que ele fez

A palavra aprender vem sendo usada para diferentes processos mentais, sendo confundida com diferentes funções do cérebro. Para você saber se você está se tornando um expert quando você estuda, a Escola Expert criou o conceito de ‘aprender de verdade’. E nós vamos começar analisando um caso real.

Ben Pridmore – competidor de memorização
Ben Pridmore – competidor de memorização

Esse é Ben Pridmore, ele é um competidor de memorização. É um memorizador profissional. Ele foi capaz de memorizar a ordem de 36 baralhos desordenados em uma hora.

Ben Pridmore foi campeão mundial de memorização 3 vezes e ele é reconhecido como sendo o melhor memorizador do mundo. Ele usa uma técnica que ele mesmo desenvolveu.

Mas aconteceu algo muito curioso no dia seguinte em que ele ganhou o seu terceiro campeonato mundial de memorização. Ele não sabia mais nem a primeira carta do baralho. Da noite para o dia ele já não sabia mais a ordem das cartas.

Agora vem uma pergunta muito importante. Será que ele aprendeu a posição das cartas, ou ele só memorizou? Pois é, ele não seguiu um método de aprendizado, ele seguiu uma técnica de memorização.

Nesse post nós vamos descobrir como estudar para aprender de verdade, e o primeiro passo é entender que memorizar não é aprender.

Se você é aquele estudante que vai muito bem na hora da prova, mas que poucos dias depois, se fizesse a mesma prova tiraria uma nota menor, cuidado! Você pode estar estudando usando técnicas de memorização que te ajudam na hora da prova, mas que não vão te ajudar na hora de aplicar o conhecimento na vida real.

Aprender de verdade versus memorização

Observando a história do memorizador profissional que no dia seguinte não sabia o que tinha memorizado para ganhar o campeonato de memorização, percebemos que a memorização é assim, da noite para o dia pode ocorrer o esquecimento.

O aprender de verdade não é assim, da noite para o dia não ocorre o “desaprendimento”. Quem aprende de verdade leva o conhecimento por anos a fio. A função cerebral de aprender é totalmente diferente da função cerebral memorizar.

Curva da memória versus curva do aprendizado
Curva da memória versus curva do aprendizado

Observando a curva da memória, que explica como a memorização funciona, vemos que quanto mais o tempo passa, mais o memorizador esquece e pior o seu desempenho. E para combater esse esquecimento, ele tem que ficar repetindo a informação.

Diferente da curva da memória, a curva do aprendizado não tem resultado apenas momentâneo. Quanto mais o tempo passa, mais aprendemos, e o nosso desempenho aumenta à medida que relacionamos novos aprendizados com outros aprendizados anteriores.

Veja que não existe um “desaprendimento” recorrente, quando aprendemos de verdade, sempre aumentamos nosso conhecimento.

Enquanto a memória é volátil, o aprendizado é acumulativo. Enquanto a memorização é passageira, o aprendizado é duradouro.

Como aprender é diferente de como memorizar

Quem fica repetindo informações para memorizar e usando técnicas como o palácio da memória, está na curva da memória. A curva da memória é para memorizadores, são os memorizadores que esquecem das coisas facilmente. A curva do aprendizado é para quem aprende de verdade, e quem aprende de verdade não “desaprende” facilmente.

Não é à toa que a curva da memória é também chamada de curva do esquecimento.

Quem aprende, está sempre subindo na escada da inteligência e se tornando mais inteligente a cada dia. Já, quem memoriza, está sempre lutando contra o esquecimento, e na maioria das vezes, lutando em vão, pois como já abordamos no post sobre a era conceitual, essa memorização não tem valor nenhum na era do conhecimento.

A heutagogia criou um método de aprendizado de como estudar para desenvolver a expertise, e esse método não inclui técnicas de memorização.

Quem memoriza não aumenta a inteligência que tem. Testes de cognição mostram que os memorizadores não são mais inteligentes, eles apenas usam técnicas de associação que permitem usar a memória espacial para lembrar de dados aleatórios. Enquanto isso, os mesmos testes mostram que quando a pessoa aprende de verdade ela se torna mais inteligente.

Ben Pridmore: “eu não aprendi, eu memorizei”
Ben Pridmore: “eu não aprendi, eu memorizei”

Inclusive, o próprio campeão de memorização reconheceu que a técnica de memorização que ele criou não serve para aprender e não deve ser usada por estudantes. É uma técnica que serve apenas para memorizar dados (como a ordem das cartas de um baralho).

O estudante que usa essas técnicas de memorização em vez de um método de aprendizado é aquele estudante que passa semestre após semestre memorizando e esquecendo, e se forma sem ser expert em nada.

Usar uma técnica de memorização ou um método de aprendizado é o que diferencia experts de memorizadores.

Aprender de verdade não é registrar informações que são esquecidas no dia seguinte. Aprender de verdade é aprender para a vida. É aprender no longo prazo.

TIREI 10 e me dei mal, onde foi que errei?

Algumas pessoas chamam a memorização de curto prazo de decoreba, entendendo que os campeões de memorização são pessoas que decoram uma grande quantidade de informações por curto prazo.

Portanto, os campeões de memorização são campeões de decoreba.

Além dessa memorização decoreba, temos a memorização de longo prazo. Vamos supor que o campeão de memorização Ben Pridmore tenha memorizado a ordem dos 36 baralhos pelo resto da vida. Será que dessa vez ele aprendeu?

Ainda não, pois faltou algo essencial: conhecimento.

Aprender de verdade envolve transformar informações em conhecimentos, em ideias. E não apenas memorizar para arquivar dados sem significado, sem compreensão.

Eu não sei se você percebeu, mas a simples memorização de fórmulas matemáticas, leis e conceitos não é aprender de verdade, mesmo que você memorize elas pelo resto da sua vida.

O maior erro de um estudante é usar técnicas de memorização para ir bem na prova, porque quando ele se formar ele vai descobrir que ele não aprendeu para ir bem na vida.

Além disso, no caso do memorizador que decorou a ordem de um baralho aleatório, ele está só memorizando mesmo, ainda que “fosse” no longo prazo (o que não foi). Observe que não existe nenhuma análise envolvida, nenhuma ideia, é só decorar a ordem aleatória de um conjunto de cartas. Isso não é conhecimento nenhum.

Memorização da ordem de um baralho: informação sem significado.
Memorização da ordem de um baralho: informação sem significado.

Conhecimento não é informação memorizada, conhecimento é formado quando atribuímos significado às informações e assimilamos elas por meio da compreensão. Você pode ler e memorizar um livro inteiro na memória de longo prazo, e mesmo assim, não ter aprendido nada.

Aprender se tornou mais importante, memorizar não

Além do mais, essa memorização mecânica de dados aleatórios não tem mais importância hoje em dia, as máquinas fazem isso por nós, com muito mais qualidade e velocidade. Quando a pessoa apenas retém informações, sem a capacidade de raciocinar sobre elas, ela está gastando tempo fazendo algo que as máquinas fazem muito melhor.

Como estudar e aprender de verdade
Profissionais da era industrial – memorizadores de instruções

Na era industrial, quando não existiam máquinas inteligentes, memorizar e aprender tinham muita semelhança porque memorizar instruções era algo feito somente pelo ser humano naquela época, e a indústria precisava de muitas pessoas para memorizar instruções.

Contudo, nesse momento em que estamos (era conceitual), é extremamente importante separar as duas palavras, pois a nova realidade da nossa era criou uma grande diferença entre aprender e entre memorizar.

Como estudar e aprender de verdade
Era conceitual – o homem inova, as máquinas memorizam instruções

Enquanto o memorizador levou uma hora para memorizar a sequência dos 36 baralhos, em um trabalho tedioso e sem graça, um computador faz isso em um minuto. Enquanto a memorização do competidor durou um dia, o computador preserva a memória por anos.

Atualmente, a simples memorização de instruções é muito bem realizada pelos computadores. E isso é muito bom, o trabalho repetitivo e de memorizar instruções é realizado pela máquina, assim, nós podemos nos concentrar no que somos bons em fazer, refletir para ter ideias e inovar.

A memória de dados aleatórios de um simples celular é maior, melhor e mais rápida do que a memória do melhor memorizador do mundo.

O que de mais valioso o ser humano faz é desenvolver sua expertise para ser criativo e inovador. É isso que o ser humano faz bem, é isso que é valioso na era conceitual, e isso, nenhum computador faz.

O óbvio que precisa ser dito sobre como estudar

Hoje em dia se tornou comum estudantes que usam técnicas de memorização e que tiram 10 em tudo, se formam, mas não tem nenhum valor para o mercado de trabalho. É um equívoco estudar usando técnicas de memorização e não se tornar expert em nada.

Como estudar e aprender de verdade
Formei, lembro do que estudei, mas não sou expert em nada

Perceba que eu não estou falando de decoreba, aquela atitude de decorar as informações para usar na prova, e dias depois esquecer de tudo. Decoreba é desperdício de tempo e todo mundo já sabe disso.

O que eu estou falando é da aprendizagem Memorística, a aprendizagem que cria pessoas instruídas, ou seja, pessoas com a capacidade de memorizar informações no longo prazo, mas que só usam isso para seguir instruções. Elas não desenvolvem a capacidade de usar o aprendizado para inovar.

No livro Cognitive Psychology and Its Implications, o psicólogo John Anderson enfatiza que a memória está sempre ligada ao passado, ou seja, você só memoriza o que já aconteceu. Obviamente, para inovar, nós precisamos fazer o inverso, isso é, precisamos imaginar o que não aconteceu.

Inovar envolver ter ideias diferentes daquilo que vimos, por isso, memorizar livros e mais livros não desenvolve a nossa expertise para inovar. Tem de haver compreensão daquilo que se estuda para que essa compreensão nos apoie a ser criativos.

Aprender de verdade não é memorizar, mesmo que seja memorização de longo prazo. É preciso compreensão profunda do material estudado.

Aluno em silêncio. Ele entendeu, mas não aprendeu de verdade

Vamos fazer duas suposições para o caso do competidor de memorização que em uma noite esqueceu o que havia memorizado:

  1. Vamos supor que ele memorizou pelo resto da vida, e não apenas durante um dia;
  2. Vamos supor que ele entendeu o significado do que memorizou, para isso, vamos trocar as cartas aleatórias pela tabela periódica.
Como estudar e aprender de verdade
Tabela periódica, dados com real significado

Supondo que ele memorizou a tabela periódica e que ele entende o significado dos dados da tabela, entende a lógica que existe no número atômico de cada elemento. Será que agora o memorizador aprendeu alguma coisa? Será que dessa vez ele aprendeu de verdade?

Ainda não, ainda falta algo essencial. A capacidade de refletir sobre a informação e externalizar ela. Aprender de verdade não significa se entupir de informações, aceitar elas sem raciocinar e servir apenas como uma biblioteca ambulante de informações entendidas.

Aprender de verdade envolve desenvolver a capacidade de refletir sobre as informações. O processo de aprendizado não termina quando entendemos uma informação e assimilamos ela pelo resto da vida, é preciso adquirir a capacidade para analisar a informação antes de aceitar ela.

Entender é só o início do aprender de verdade

Você, provavelmente, conhece aquele aluno que sempre entende tudo o que o professor diz, mas na hora de escrever na prova, ele não sabe explicar. Ele não esqueceu o assunto e ele entende a matéria, mas ele não sabe comunicar a matéria com suas próprias palavras e refletir sobre ela. Isso acontece porque ele apenas assimilou a informação de modo mecânico.

É aquele aluno leu um livro, entendeu o livro, mas ele não consegue conversar sobre as ideias do livro com outra pessoa, não sabe analisar o livro com senso crítico. Esse é um caso muito comum das pessoas que entendem, mas não aprendem.

Como estudar e aprender de verdade
O aluno que entende tudo mas não sabe falar sobre o que entendeu

Para aprender de verdade é preciso entender, mas somente entender não garante que houve aprendizado. As pessoas que não tem método de aprendizado caem no erro de parar de estudar quando entendem algo, elas acham que a última fase do aprendizado é o entendimento.

Nas palavras de Alexander Pope:

“Algumas pessoas nunca aprendem nada, porque entendem tudo muito depressa.”

Nós não estudamos para sermos instruídos. Nós estudamos para sermos inteligentes e pensar por conta própria. Não adianta entender tudo o que o professor fala ou tudo o que um livro diz, e não ter a capacidade de falar também.

Aprender de verdade não é entender sem refletir por conta própria. Não adianta apenas internalizar, ter a capacidade de externalizar o conhecimento é essencial.

Característica principal do aprender de verdade

Ainda no exemplo do memorizador, vamos a mais algumas suposições:

  • Supondo que ele memorizou por toda a sua vida;
  • Supondo que são dados cheios de significado que ele entende (substituindo cartas aleatórias para a tabela periódica);
  • Supondo que ele sabe conversar e externalizar seu entendimento para outras pessoas.

Agora será que ele aprendeu de verdade? Ainda não.

O quarto e último item que orienta a como estudar para ser um expert reside na aplicação prática do conhecimento. Isso é, fazer exercícios e usar a informação para produzir algo, seja uma decisão ou uma atitude.

Como estudar e aprender de verdade
Expert em química toma ações práticas a partir de informações da tabela periódica

Para que o aprendizado fosse efetivo, ele deveria ter ainda a capacidade de usar o conhecimento da tabela periódica em competência para agir, seja tomando decisões sobre como calcular a densidade de um composto, ou avaliar se uma determinada substância é ou não um bom condutor energético.

Citando George Herbert:

“Um homem de boa memória sem aprendizado, é como o homem que tem uma pedra, tem um graveto e tem palha, mas não consegue criar fogo.”

A competência para utilizar informações em atitudes práticas no mundo real é a maior diferença entre experts e memorizadores. Definitivamente, memorizar a ordem aleatória de um conjunto de cartas não ajuda muito nesse aspecto.

A expertise não é medida pela quantidade de informações que você entende ou fala, mas sim pela sua capacidade de usar na prática as informações que você compreende.

Conclusão: como aprender de verdade em quatro chaves

Voltando a pergunta chave: Como estudar para aprender de verdade e ser um expert em qualquer assunto?

Resposta em quatro chaves essenciais para aprender de verdade:

  • Estude visando o longo prazo, e não apenas o dia da prova. Portanto, não foque em técnicas de memorização, foque em técnicas de aprendizado;
  • Entenda o que estudou, não aceite informações como dados sem significado, busque saber o que cada informação representa;
  • Aplique uma imersão ativa para saber externalizar o conhecimento, o inverso disso é ter uma postura passiva e apenas internalizar informações. Então, não saiba apenas ler/escutar, aprenda a falar/escrever sobre o que estudou;
  • Pratique com exercícios para que a compreensão se torne competência prática. É assim que você se tornará um expert, alguém capaz transformar conhecimento em ações inteligentes no mundo real.

Sem longo prazo, sem entendimento e sem capacidade de usar no mundo real não é aprender de verdade, é só memorização.

Aplique as quatro chaves sobre como estudar para aprender de verdade e então se tornar um expert será uma consequência inevitável.

Anderson Ferreira

Anderson Ferreira é engenheiro mecânico pela PUC Minas, MBA em gestão de projetos pela USP, certificado como PMP pelo Project Management Institute, Mestre em Engenharia pela UFMG e certificado PMO-CP pela PMO Global Alliance. Anderson ama a gestão de projetos e engenharia, e acredita que unindo esses dois conhecimentos podemos construir um Brasil cada vez melhor.

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